terça-feira, 22 de abril de 2008

Fim da Trip!

Depois de 8 meses na estrada, 14 países visitados e algumas dezenas de milhares de quilômetros rodados, nossa trip de mochila chegou ao fim. Estamos de volta ao Brasil.

Visitamos lugares incríveis, de florestas tropicais até algumas das maiores cidades do mundo, passando por desertos e pelas montanhas mais altas do planeta. Tivemos contato com culturas fascinantes, visitamos igrejas católicas, templos budistas e hindus, sinagogas judaicas e mesquitas muçulmanas. Andamos de avião, carro, ônibus, caminhão, trem, bicicleta, rickshaw, tuk tuk, elefante, camelo e a pé. Choramos de alegria e tivemos decepções. Rimos muito e brigamos um pouco. Trouxemos 21 mil fotos e alguns outros milhares de lembranças. Se valeu a pena? Precisa dizer...

Durante nossa viagem uma notícia de jornal nos chamou a atenção. Um senhor inglês de 102 anos havia se tornado o migrante mais idoso do mundo. Perguntado porquê ele decidira migrar para a Nova Zelândia aos 102 anos ele disse: "Não queria chegar aos 107 anos e pensar: Puxa vida, eu podia ter migrado para a Nova Zelândia quando tinha 102 e não fui...".

Se ao ver nossos relatos e fotos você também sentiu vontade de viajar, nosso conselho é um só: vá.

Nos vemos na Trip de Mochila 2...
Enrico & Luciana

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Índia

Delhi –
Chegamos na Índia pela capital Delhi. É um choque. Sim, realmente as vacas estão em todos os lugares, soberanas e sagradas. Param o trânsito sem a menor cerimônia e os indianos, totalmente acostumados, parecem indiferentes. Há também bosta de vaca para tudo quanto é lado. O trânsito é muito maluco, e um indiano não consegue dirigir sem a buzina. Bicicletas, motos, rickshaws (bicicleta-táxi), ônibus, carros, e não esquecendo das vacas, cruzam em todas as direções (Foto 1).
Para uma capital, Delhi está em mal estado de conservação. Os monumentos- com raras exceções- estão mal preservados. Valem uma visita o Forte de Delhi (Red Fort), o Minarete Qutb, o Templo Sikh (fotos 2 e 3), e o complexo com a tumba de Humayun (foto 4). Delhi é uma cidade muito grande, com 10 milhões de habitantes (fotos 5 e 6). Ficamos hospedados no Main Bazaar, uma área muito turística, repleta de pequenos hotéis, ruas estreitas, muita sujeira e barulho. Como porta de entrada da maioria dos turistas, Delhi é só uma passagem. Detalhe: o aeroporto de Delhi foi recentemente eleito o segundo pior aeroporto do mundo. Parece que nunca recebeu uma faxina, meio que um aviso para os que acabam de chegar que faxina na Índia é artigo muito raro. Três dias depois seguimos para o Nepal, como dissemos no post anterior. De lá, voltamos para continuar nossa passagem pela Índia, voando para Varanasi.














Varanasi
“Felizes daqueles que vivem às margens do Ganges” dizia o letreiro em uma antiga parede (foto 1). Varanasi, é a cidade mais sagrada da Índia. Acredita-se que foi fundada por Shiva, um dos três mais importantes deuses hindus, junto com Vishnu e Brahma. Registros indicam que ela já existia seis séculos antes de Cristo. Varanasi é considerada o centro do universo hindu, um local de passagem onde os que lá morrem atingem imediatemente a iluminação. É também o local onde os deuses hindus vêm até a terra.

O rio Ganges (foto 2) aqui é conhecido como Maha Ganga, uma entidade viva e suas águas são a ligação dos que estão na Terra com o paraíso. Em dois locais específicos (foto 3) são feitas as cremações, quando os hindus acreditam que a alma é libertada e purificada. Ao longo do rio estão dezenas de ghats, escadarias de pedra que descem da cidade diretamente para o Ganges (fotos 4 a 6). São nesses gaths que as pessoas chegam ao rio. Aí é que começa o problema: o Ganges é imundo (foto 7). Pessoas tomam banho, escovam os dentes, bebem água, se benzem, nadam, lavam roupa, lavam búfalos (não necessariamente nessa ordem!) lado à lado com tubulações que trazem o esgoto não tratado da cidade (fotos 8 a 12). Animais mortos em decomposição, as cinzas dos que foram cremados e cadáveres podem ser vistos no Ganges. Cinco tipos de pessoas não são cremadas, pois acreditam que já são purificados: crianças de até 9 anos, mulheres grávidas, leprosos, aqueles que morreram picados por cobras, e os homens sagrados (sadhus e naga-babas). Estes são amarrados à pedras e jogados diretamente no meio do Ganges. Não raramente alguns destes corpos se desprendem e voltam à superfície, como presenciamos em uma manhã (foto 13). É chocante a maneira como as pessoas se relacionam com o rio, esquecendo por completo as noções básicas de higiene. Vimos um cão morto, estufado de podre, boiando e duas crianças nadando alegremente ao seu lado. Vimos pessoas que nadavam de braçada no rio, enchiam a boca de água e brincavam de fazer chafariz. Não é raro ver pessoas passando mal porque tiveram contato com a água do rio. Qualquer pessoa que tenha muito nojo de sujeira infartaria nas quatro primeiras horas nas margens do Ganges em Varanasi.

Uma vez dito isso, a experiência de visitar Varanasi não deixa de ser interessante (fotos 14 e 15) . O contraste entre as culturas ocidental e indiana é muito forte (fotos 16 a 20)e pode deixar algumas pessoas piradas. Vimos VÁRIOS ocidentais que estavam completamente malucos. Mas nós dois ficamos um pouco decepcionados pois esperávamos que Varanasi fosse um pouco mais sagrada. Aliás, nós dois tínhamos a expectativa de que a Índia fosse mais tranquila. Ao contrário do que se possa imaginar, nada na Índia é zen. Eles são super agitados, barulhentos, desorganizados. A religião permeia a vida dos indianos, mas percebemos que apenas uma parte da população parece levar a religiosidade realmente a sério. Engraçado com as expectativas às vezes nos pregam peças.











































Agra –
Deixamos Varanasi de trem com destino à Agra. Fizemos a péssima decisão de comprar passagens no vagão dormitório da segunda classe. Foi uma longa viagem: 15 horas apertados, num vagão imundo (foto 1). Por sorte ao nosso lado estava um simpático casal de portugueses (Cláudia e Paulo) na mesma situção. Acabou que passeamos juntos em Agra (na foto 2, detalhe do Forte de Agra).
Visitar Agra é obrigatoriamente visitar o Taj Mahal, sem dúvida um lugar muito bonito (fotos 3 a 10). Diz a lenda que o Shah Jahan, rei do império Moghul, construiu o Taj para abrigar a tumba de sua esposa preferida, a princesa Mumtaz Mahal, que morreu ao dar à luz seu 14º filho em 1631. Devastado pela morte, Jahan ordenou que fosse construído um monumento que não pudesse ser superado em beleza. Vinte mil homens de toda a Ásia trabalharam na construção, concluída apenas em 1653. A lenda diz ainda que, deposto por seu próprio filho, Shah Jahan passou o resto de seus dias, inconsolável, preso no forte de Agra, de onde podia avistar o Taj Mahal. Entretanto, uma outra versão mais recente, suportada por historiadores, diz que Jahan já tinha planos de construir o Taj antes da morte de Mumtaz. O projeto era conhecido como “O Trono de Deus”, e seria uma homenagem megalomaníaca para ele mesmo. Todo em mármore branca, o Taj Mahal é uma edificação realmente impressionante, e que merece o título de Maravilha da Humanidade.






















Rajastão – Jaipur e Udaipur
De Agra fomos para a região do Rajastão, às margens do deserto e conhecida pelos seus antigos castelos, homens de longos bigodes, turbantes e marajás. Visitamos primeiro Jaipur, conhecida como “cidade rosa”, pela cor de seus prédios. Jaipur é uma cidade muito grande que não seduziu muito. Há um belo palácio (City Palace), em bom estado de conservação, que dá uma idéia da riqueza e ostentação em que viviam os marajás (fotos 1 e 2). Em Jaipur está também o Nahargarh ou Tiger Fort (foto 3), um impressionante complexo de forte e palácio no alto de uma colina nos arredores da cidade. Infelizmente, ele também está em mal estado de conservação. Uma pena, pois o cenário e a sua arquitetura, se bem preservados, seriam fantásticos. Jaipur também é famosa pelas suas estamparias, onde os processos de impressão e tingimento ainda são todos manuais (fotos 4 a 6). Bem interessante.
















Nossa próxima parada foi Udaipur, para nossa surpresa, limpa e organizada. Perecebemos um cuidado bem maior por parte da população para com seus prédios, jardins e monumentos (foto 1). Visitamos o City Palace (foto 2), construído e ampliado por sucessivos marajás da mesma família, no poder há mais de 1300 anos. Novamente nos impressionou a ostentação e riqueza dos aposentos. As ruelas de Udaipur são cheias de ateliês de pintura, música, artesanato e bazares (fotos 3 a 6). Além das onipresentes vacas, às vezes cruzamos com outros animais (foto 7)!














Mudando de ares - Dharamsala
Nosso próximo destino seria Jaisalmer, em pleno deserto de Thar. Mas como o calor estava muito forte (próximo de 40 graus), já estávamos cansados do barulho e da bagunça indiana e teríamos que encarar 12 horas de ônibus até a cidade e depois mais 19 de trem até Delhi, resolvemos mudar de roteiro e de ares, escolhendo visitar Dharamsala, nas montanhas ao norte de Delhi (foto 1), a cerca de 12 horas de ônibus.
Desde a invasão chinesa no Tibete, em 1959, este é o local onde está exilado o governo tibetano e a residência do Dalai Lama.
A situação no Tibete está complicada, pois com a proximidade das Olimpíadas, aumentaram as manifestações e protestos contra a ocupação chinesa e pela lierdade de expressão e de religião. A China está reprimindo brutalmente estas manifestações, e estima-se que mais de uma centena de manifestantes já foram mortos. Em Dharamsala, há vigílias todas as noites e a cidade está repleta de cartazes de protesto (foto 2). É didícil não se solidarizar com a causa tibetana, sua cultura pacífica, povo agradável e simpático. Fica o nosso protesto contra a China, exemplo a não ser seguido na questão de direitos humanos (foto 3, tirada em Boudha, Kathmandu).